ANÁLISE CRÍTICA DA EDUCAÇÃO SEGUNDO ÉMILE DURKHEIM
A educação é universalmente reconhecida
como um direito humano fundamental para todas as crianças. Ela contribui não
apenas para o desenvolvimento social e económico, mas tem um valor inerente em
si próprio. A educação é uma preparação para a vida, que lança a base
necessária para o desenvolvimento geral e o bem-estar das crianças. Situações
de emergência – pobreza, guerra, conflitos, migrações forçadas, guerras étnicas
ou calamidades naturais criam condições de descontinuidade, incerteza e
instabilidade que afectam as oportunidades de educação das crianças. Os
profundos impactos negativos de emergências sobre a educação atribui-se a
factores tais como os deslocamentos de comunidades, a desintegração de famílias
e de estruturas sociais, a destruição de facilidades educacionais, recursos
físicos e financeiros escassos e a falta de professores qualificados. Em alguns
países, mesmo quando não existem situações de emergências, pode haver, uma
falta de condições e de recursos ideais para a pior a educação básica. Como
resultado dessas condições, as crianças muitas vezes não têm acesso a educação
básica de boa qualidade.
Abordamos, então, sobre a educação, mas
não âmbito geral. Abordaremos somente, ou seja, faremos uma análise crítica
acerca da definição daquela que é considerada pai da sociologia da educação.
Segundo a definição de Émile Durkheim
diz que “a educação é a acção exercida pelas gerações adultas sobre as gerações
que se encontram debilmente socializada”. Diante disso, apraz-me analisar que
desde a certa idade, para todos os indivíduos e que a sociedade não poderia
existir senão houver em seus membros homogeneidade. A educação, porém, própria
existência.
Partindo desta orientação, Durkheim elabora
sua teoria da educação, propondo uma socialização metódica das gerações novas.
Para ele, era necessário articular a pedagogia à sociologia, uma vez que a
escola teria como finalidade suscitar e desenvolver na criança certo número de
estado físico, intelectual e moral exigido pela sociedade e que seriam
aplicáveis a mesma.
Para Durkheim, a sociedade é uma determinante, e exige que o indivíduo
se adapte totalmente aos seus objectivos. A educação é o principal instrumento
dessa adaptação. É a educação que transforma a criança, desprovida de um senso
social, em uma peça activa da sociedade. O trabalho dos adultos sobre as
"falhas" da criança, contribui para a incorporação dos princípios da
sociedade da qual essa criança faz parte. Desta maneira, podemos entender, pelo
prisma de Durkheim, que a história tem um papel fundamental, ou melhor, a
história nos mostra como foram educados os indivíduos para a vida social. Por
isso, Durkheim pressupõe ser indispensável à observação histórica para termos
uma noção preliminar da educação e suas aplicações.
Nesta observação da história das sociedades e suas relações, Durkheim
procura demonstrar que não podemos escapar de uma formação voltada para o
bem-estar desta sociedade, e que, se nos desviarmos deste caminho, poderemos
causar muito desconforto à criança, e até a sua exclusão do meio social, pelas
dificuldades que a criança enfrentaria se não conhecesse os valores e
necessidades da sociedade em que estará inserida. Há, no entendimento de
Durkheim, uma função ao mesmo tempo una e múltipla dos sujeitos sociais, ou
seja, apesar de construir uma especificidade de tarefas e de trabalho, o
indivíduo tem que estar a serviço de um bem maior, assim como receber e
internalizar os valores colectivos que garantem o funcionamento desta
sociedade, e é justamente por este aspecto que entendemos o pensamento
durkheimiano como representante de uma corrente funcionalista de raciocínio, em
que a absorção de princípios morais são seu fundamento. O sujeito é único
enquanto sua particularidade de especialização, mas está, ao mesmo tempo,
dentro de uma constelação de valores que são compartilhados com todo os
sujeitos de uma mesma sociedade, caracterizados como os valores culturais a que
todos os indivíduos devem ter acesso para a sua própria continuidade.
Desta maneira, Durkheim nos apresenta objecções às idealizações da
educação, principalmente quando essas sugerem uma educação universal, que possa
atender a todas as sociedades sem observar suas diferenças originais e
históricas. Para este pensador, não há possibilidade de mudar uma instituição
que foi construída ao longo de um período histórico que comanda as necessidades
da formação desta instituição, pois se isso acontecer, seria necessário uma
mudança na própria estrutura desta sociedade, isto porque a educação não tem
esse poder, por se aplicar a estruturas já existentes, não sendo ela a criadora
dessas estruturas, mas exactamente o contrário. Esta dificuldade se impõe
porque na história a educação tem variado com o tempo e o meio em que
participa. Cada período histórico tem sua característica particular, o que
inviabiliza a aplicação de um mesmo modelo pedagógico. Definitivamente, é
impossível mudar os costumes que formam os sistemas de educação, pois a
educação será sempre o reflexo da sua sociedade.
Entre esses projectos idealistas criticados por Durkheim, podemos
reconhecer basicamente dois modelos. O primeiro é aquele que busca a perfeição
do indivíduo ao seu extremo, como meta última na realização e potencialização
dos sujeitos. Porém, Durkheim afirma que é uma contradição acreditar num
desenvolvimento harmónico do indivíduo em relação às necessidades de uma tarefa
especializada, que este sujeito deverá desenvolver. A outra forma idealista de
educação é aquela que procura a felicidade para si mesmo e para os outros
membros da sociedade. Também é contestada por Durkheim por perceber a
felicidade como algo essencialmente subjectivo, o que torna impossível o seu
trabalho prático na educação, que é social.
Nesta relação, una e múltipla, podemos entender que a natureza
específica da educação é realmente agir sobre as gerações mais jovens e
despreparadas para o convívio social, suscitando e desenvolvendo um certo
número de estados físicos, morais e intelectuais, que são exigidos pela
sociedade no seu todo, mas também criando o espaço para o desenvolvimento das
particularidades que o indivíduo está destinado a trabalhar dentro e a favor
deste contexto.
A definição que Durkheim impetra para educação, sugere algumas
consequências inexoráveis. Entre elas está a criação de um carácter social que
tende a promover uma socialização metódica constante das novas gerações diante
dos valores reclamados pela sociedade.
A educação transmite para o indivíduo
conhecimentos que a natureza nunca poderia realizar, sendo que, mesmo as
qualidades que pareçam ser escolhidas pelos próprios indivíduos, são
profundamente ligadas ao meio social que as prescreve como necessárias. Assim,
"desejando melhorar a sociedade, o indivíduo deseja melhora-se a si
próprio"(Durkheim).
Dessa forma, Durkheim acreditava que seria
mais beneficiada pelo processo educativo. Para ele, “a educação é socialização
da jovem geração pela geração adulta”. E quanto mais eficiente for o processo,
melhor será o desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja inserida.
Nessa concepção durkheimiana – também
chamada de funcionalista, as consciências individuais são formadas pelas
sociedades. Ela é aposta ao idealismo, de acordo com o qual a sociedade é
moldada pelo “espírito” ou pela consciência humana.
Segundo ele diz que “a constituição do
ser social, feita em boa parte pela educação é a assimilação pelo indivíduo de
uma série de normas e princípios, sejam morais, religiosos, éticos ou de
comportamento que baliza a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que
formador da sociedade, é um produto dela”.
Essa teria, além de caracterizar a
educação como um bem social, a relacionou pela primeira vez as normas sociais e
a cultura local, diminuindo o valor que as capacidades individuais têm na
constituição de um desenvolvimento colectivo. “Todo o passado da humanidade
contribuiu para fazer o conjunto de máximas que dirigem os diferentes modelos
de educação, cada uma com as características que lhes são próprias. As
sociedades cristãs da idade média, por exemplo, não teria sobrevivido se
tivessem dado ao pensamento racional o lugar que lhe é dado actualmente” explicou
o pensador.
No livro “As Regras de Método sociológico”, Durkheim
já havia exposto a importância atribuída a educação, considerando-a como
reguladora dos tipos de conduta ou de pensamentos que são, tanto externos como
ao indivíduo, como também, doptado dum poder coercitivo em virtude do qual se
lhe impõe.
O autor citou, por exemplo, as
formulações feitas por Stuart Mill, Kant, e James Mill (Fauconnet, in:
Durkheim, 1975, p.34-34), aventando que as definições propostas por esses
autores parte do postulado de que há uma educação ideal, perfeita, apropriada a
todos os homens, indistintamente e esse respeito, observou que é a educação
universal a única que o teorista se esforça por defender. Mas, se antes de o
fazer, ele considera-se a história, não encontraria nada em que apoiasse tal
hipótese (ibidem, p.35).
No pensamento marxista, a educação é um
espaço de reprodução ideológica dos interesses da classe dominante; em Durkheim
é vista como instituição integradora essencial a ordem social; na perspectiva
weberiana, a educação é fonte de um novo princípio de um novo controlo, enquanto
racionalidade instrumental de dominação burocrática. Se em Marx a educação pode
oprimir ou emancipar o individuo; em Durkheim a educação é o mecanismo pelo
qual ele se torna membro de uma sociedade.
Weber vai mais longe: a educação é
factor de selecção e de estratificações sociais. Marx e Durkheim centraram-se
no poder da força externas ao indivíduo; Weber centrou-se na capacidade de
acção sobre o indivíduo sobre o exterior.
Depois de feita as investigações,
conclui-se que Émile Durkheim via a educação como um esforço contínuo para
preparar as crianças para vida comum. Por isso, era necessário impor a elas não
adequadas de ver, sentir e agir, as quais elas não chegariam espontaneamente.
Por tanto, a tarefa que cabe a educação
não é transformar ou revolucionar a sociedade capitalista, e sim reproduzir os
valores morais dessa sociedade, integrando os indivíduos, tentando no máximo,
reformar alguns aspectos considerados negativos. Logo, a visão é bem
conservada. A educação existe para transformar e sim para produzir.
BIBLIOGRAFIA
DURKHEIM, Émile. As regras de método sociológico. In: Durkheim. 2ª ed. Trad. de
Margarida Garrido Esteves. São Paulo, Abril Cultural, 1983. (Colecção os
Pensadores).
DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. 10ª ed. Trad. de Lourenço Filho. São Paulo,
melhoramentos, 1975.
Jacques, Leclercq. Introdução à Sociologia. Trad. António Correia, 2ª ed. Coimbra,
Editor: Sucessor, 1964.